Dominantes - UMA BATALHA ETERNA - CAP. 2  

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Capítulo 2: Combustão Espontânea!

Mais rápido do que gostaria, Marcos Alcântara avançou com seu Peugeot prateado pela rodovia, rumo a Campos do Jordão. Embora ainda sem ter certeza do que encontraria pela frente, sabia que por solicitarem sua presença com tamanha urgência, a situação deveria ser crítica.

Se aproximando do chalé que lhe foi indicado, estranhou a discreta movimentação policial: apenas dois veículos, um deles com o emblema da polícia federal e outro logo identificado como da polícia local, estavam posicionados à frente da casa. A área estava parcialmente cercada com as características fitas amarelas, e ainda não era possível ver nenhum curioso nas imediações. Assim que desceu do carro, foi recepcionado pelo seu fiel escudeiro, que lhe deu um forte abraço.

- Como vai, chefe? Pronto para trabalhar? – disse o perito. Ramiro era um dos mais respeitados investigadores forenses do estado. Sua baixa estatura e ampla calvície faziam do simpático policial o principal alvo de apelidos no departamento.

- Vamos lá meu velho, o que você tem pra mim?

- Realmente o presente que eu tenho aqui é seu, detetive. Só nós dois podemos entrar por enquanto. – afirma Ramiro, dando mais seriedade ao tom de voz.

Dirigindo-se à entrada do chalé, Marcos se aproximou de um dos policiais que concluíam a demarcação do perímetro.

- Que noite, hein? Quem são eles? – puxou assunto, apontando para o banco traseiro da viatura da polícia local.

- Nem me fale! Quatro da manhã e pelo visto isso ainda vai longe! Os dois ali são seguranças do homem. Foram eles que ligaram avisando da ocorrência.

- Quando foi isso?

- Há umas quatro horas. Você quer falar com eles agora?

- Vou dar uma olhada lá dentro primeiro, aquele velho vive fazendo besteira! – disse o detetive. Ambos riram brevemente, e Marcos seguiu para a entrada da casa.

Marcos se abaixou para superar a fita que cruzava a porta, seguido por Ramiro. Um forte cheiro de queimado o surpreendeu, mas não soube identificar de pronto o que poderia tê-lo ocasionado.

- Que cheiro é esse? – perguntou o detetive

- Osso queimado, chefe.

- Ossos? – retrucou Marcos. O perito lhe respondeu balançando a cabeça afirmativamente.

- Antes de qualquer coisa, acho melhor eu te mostrar uma coisa, chefe. Cobre o rosto, porque vai feder.

Ramiro conduziu Marcos até o outro lado da sala, desviando com cuidado de todas as áreas demarcadas pelo investigador.

- Há quanto tempo você chegou, Ramiro?

- Há pouco mais de uma hora. Você acredita que quando eu cheguei aqui, o promotor já estava me esperando com o mandado? Você sabe o que isso significa, né?

Marcos sabia muito bem o que isso significava. Intervenção direta da superintendência na investigação. O crime acontecera há pouco e todas as partes foram acionadas em tempo recorde. Com certeza, mais cedo ou mais tarde, o motivo dessa pressa apareceria.

Ramiro arrastou rapidamente uma porta deslizante que lhes deu acesso a outro ambiente da casa. O correr da porta trouxe intensificou o odor fétido percebido na entrada do chalé. Marcos recuou um passo, torcendo o nariz, para logo em seguida ficar completamente pasmo com a cena que se colocava diante de seus olhos.

Sobre o tapete se encontrava nada menos do que um esqueleto esbranquiçado. Algumas partes da ossada, como as laterais da bacia e a parte de trás do crânio e das costelas, já se apresentavam em estado de fragmentação. Observando com atenção o que restou da vítima, era possível perceber algumas partes da ossada se desfazendo lentamente, como se feitas de areia.

- Sinceramente Ramiro, espero que você tenha uma ótima explicação para o que aconteceu aqui...

- Bom, vamos com calma chefe. Primeiro olha lá em cima, nos cantos do escritório. Temos duas câmeras de segurança. Bem, elas eram câmeras de segurança. Foram derretidas, só que o teto mal ficou manchado. Sei lá, parecem que colocaram as câmeras no microondas! Dá uma olhada aqui na mesa também. Vê esse monte de plástico retorcido? Consegui identificar algumas partes. Era uma maleta e um notebook.

- Pelo jeito, temos mais câmeras derretidas na sala de estar também – afirmou o detetive, dando um passo atrás, apontando para cima.

- E outra coisa. Você vê essas partes esfareladas nas costas da ossada? Isso me dá praticamente a certeza que esse esqueleto estava em pé, caiu de costas, e se fragmentou.

Marcos fez uma pausa para então retomar sua análise.

- Tudo bem, meu velho. Se alguém tivesse entrado aqui, atirado nele, e saído misteriosamente, eu entenderia. Mas não foi isso que aconteceu. Esse homem foi torrado até os ossos! Eu não tenho como acreditar que esse corpo ficou assim, aqui, e sem que esse escritório inteiro estivesse destruído!

- Pra piorar chefe, esse corpo não poderia ficar assim de jeito algum. Eu não sou um especialista nisso mas, pelo que eu sei, um corpo não fica desse jeito nem quando é colocado em um forno crematório. Acho que nem vamos conseguir movê-lo direito. Só de bater o pé perto do corpo ele se desfaz!

- O tapete só está queimado perto dos pés dele, Ramiro. Não tem lógica! Marcos parece indignado.

- Marquinhos, tem uma teoria meio maluca que com certeza você já ouviu falar...

- Não me venha com essa de combustão espontânea que eu não engulo! – retrucou o detetive.

A teoria levantada por Ramiro é conhecida como combustão humana espontânea, ou C.H.E. Os entusiastas que defendem esse fenômeno se baseiam na possibilidade de um corpo entrar em combustão sem a interação com alguma fonte que inicie o processo incendiário.
- Tudo bem, tudo bem. Mas eu estou curioso para saber o que você vai fazer quando concluirmos as análises. Mesmo que cheguemos a alguém, como você espera descobrir como o assassino o matou? Usou uma pistola desintegradora de desenho animado ou colocou o cara embaixo de um foguete?

- Se você me permite – continuou o detetive, quase interrompendo seu colega - vou falar com os seguranças lá fora e depois achar algum lugar para ficar. No caminho eu pedi para o Cosme vir para cá. Ele deve chegar a qualquer momento para te ajudar na coleta das evidências. Precisamos de mais alguém de confiança.

- Vai tranqüilo. Qualquer novidade eu te acordo! – afirmou o investigador, com um ar irônico.

Saindo do chalé, Marcos procurou os seguranças para uma primeira abordagem. As confirmações que buscava nesse momento visavam apenas à montagem da linha do tempo dos fatos ocorridos na noite do crime. As filmagens e as demais evidências auxiliariam com o resto.

Com paciência e astúcia, o detetive começou a colher as informações que precisava. Marcos descobriu que os seguranças, ambos brasileiros, já trabalhavam há mais de um ano para a vítima, na Inglaterra. Segundo eles, seu chefe era um conhecido diretor do ramo das telecomunicações, que estava em férias no Brasil.

Soube também que a esposa do executivo viria encontrá-lo na noite seguinte. A discrição momentânea do caso já tinha dia e hora para acabar.

Em seguida seu objetivo foi coletar, de forma individual, toda a seqüência de acontecimentos daquela noite. Como de praxe, foram feitos alguns questionamentos adicionais, aparentemente irrelevantes para o caso, mas essenciais para determinar se os depoimentos eram combinados. Satisfeito com o resultado, Marcos pediu para que os policiais auxiliassem os dois homens com algum lugar para ficar. O próprio detetive precisava fazer o mesmo.

“Era tudo o que eu precisava. Um americano morto queimado até os ossos... é pra derrubar a carreira de qualquer um!” – pensou Marcos, enquanto se encaminhava para o carro. Em apenas quatro anos como detetive da polícia federal, Marcos estava construindo uma carreira meteórica. Teve participação ativa na resolução de dois assassinatos marcantes, o que lhe rendera um certo destaque no departamento e uma crescente confiança da superintendência. Com pouco mais de trinta anos, Marcos possuía um semblante confiável e jovial, o que começava a lhe favorecer na constante procura da imprensa por especialistas em suas entrevistas.

Mas agora Marcos estava preocupado com o esqueleto que lhe colocaram no armário. Como de costume, passou a noite em claro ponderando hipóteses e mais hipóteses de como aquilo poderia ter acontecido. Pensou em algumas alternativas que até mesmo ofenderiam os padrões do racional. Devia estar com sono. O dia seguinte lhe traria mais respostas.

This entry was posted on quarta-feira, fevereiro 11, 2009 at 13:56 and is filed under , , , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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