Dominantes - UMA BATALHA ETERNA - CAP. 5  

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Capítulo 5: Teste de Paciência

Em sua não tão longa carreira como detetive, Marcos sempre soube que o único jeito de conseguir a autonomia e confiança que queria no departamento era controlando suas emoções...

Uma única vez ele perdeu realmente o controle... o suspeito não admitira nada no começo e, como todos, se dizia inocente. "eu nunca vi essa menina na minha vida" - gritou ele por muitas vezes. Porém, após Marcos começar a mostrar as provas circunstanciais que tinha, o assassino mordeu a isca e a coisa foi mudando de figura.

Mas a surpresa de Marcos foi que, ao invés de receber uma confissão arrependida ou simplesmente uma afirmativa fria, tudo o que o suspeito dizia começou a soar como um conto erótico macabro.

O maldito começou a narrar como se aproximou da garotinha - de doze anos recém completos - se gabando de cada frase que surtira encantamento na menina. Comentou como seus olhos brilhavam quando conversava com ele, e como foi fácil convencê-la a lhe visitar em sua casa depois da escola. Afirmou que ela queria aquilo, queria ser tocada, acariciada. Mas na hora ela se apavorou. Xingou ele, aos berros. Ele não podia ser rejeitado daquele jeito. Não por uma menininha.

Quando ele disse que ela mereceu ser morta, Marcos não se conteve. Voou por cima da mesa, pressionando suas mãos contra o pescoço do assassino. Empurrou-o até a parede, deixando o homem desnorteado, com os pés balançando, quase fora do chão. A nuca do estuprador se chocou com força contra a parede fria da sala de interrogatório. Mas Marcos não parou. Quando a cabeça do assassino encontrou a parede pela segunda vez, dois policiais que acompanhavam o interrogatório (que ficaram paralisados por um instante pela reação inédita de Marcos) pegaram-lhe pelos ombros e o ajudaram a se recompor.

Marcos estava irritado com o rumo que o interrogatório havia tomado, mas estava decidido a não demonstrar um pingo de irritação. O ideal seria tentar encerrar essa conversa do mesmo jeito que ela começou. Com os últimos absurdos que ouviu, o detetive tinha uma certeza: a conversa tinha terminado.

- Sr. Anthony, se o sr. se sente ameaçado, podemos providenciar proteção. Vou pedir para um de meus homens contatá-lo sobre o assunto assim que retornar. - disse

- EU NÃO PRECISO DE PROTEÇÃO - gritou Anthony Cale, apanhando uma das mãos de Marcos, enquanto o detetive já voltava sua atenção para a porta de saída. - Você não entende? Chegou a hora de revelar o segredo, Marcos! Mesmo que eu coloque mil seguranças. São todos meus funcionários. Ninguém acreditaria. Eu preciso de você, Marcos! - A tagarelice desesperada do presidente da Vobcom colocava uma pulga na orelha de Marcos. Não que ele acreditasse na conversa de maluco que estava ouvindo, mas ele estava cogitando a hipótese de que Anthony Cale realmente acreditava no que estava dizendo.

- Você tem credibilidade e capacidade para resolver esse crime, Marcos! Tudo o que eu estou pedindo é uma hora, no máximo duas! Eu lhe prometo: Se nada acontecer nessas duas horas, eu saio do seu caminho. - concluiu.

Marcos não soube o que responder. Melhor contrariar ou dar razão? Preferiu fingir que não ouviu.

- Se precisar de mais alguma coisa, Sr. Cale, pode me contatar, está bem?

- E a gravação? Você vai me dizer que ela também não vale nada? Você vai ignorar a evidência que lhe dei, detetive? - esbravejou Anthony

- Não, Sr. Cale. Eu não vou ignorar essa evidência. Vou apressar o máximo possível nossos procedimentos para que o senhor receba uma visita do promotor o quanto antes. Com a sua autorização formal, a gravação será utilizada. Agora eu preciso ir, se me permite... - disse, abrindo a porta que dava acesso ao escritório - O senhor me acompanha até o elevador ou me despeço daqui?

Anthony Cale deixou cair os ombros, franzindo o cenho de forma visivelmente derrotista.

- Não...não. Eu o acompanho - disse.

O presidente da Vobcom acompanhou em silêncio a saída de Marcos. Só se pronunciando após a entrada do detetive no elevador.

- Marcos, eu vou preparar uma armadilha para ele. Hoje, às sete da noite. Se você mudar de idéia, eu ainda conto com você...

-Tenha um bom dia, Sr. Cale - respondeu Marcos, em um tom de voz indiferente.

Enquanto dirigia, Marcos ainda se via surpreso com a eloqüência que o presidente da Vobcom mostrou enquanto declamava suas teorias sobrenaturais. “Ele é muito maluco. Meu Deus!”.

Após alguns minutos ouvindo rocks dos anos 60 e 70, o celular tocou. Era Cosme, o gentil e esguio detetive que sempre o auxiliava nos casos mais importantes. Cosme era realmente uma figura. Por mais calor que fizesse, não havia quem o convencesse a utilizar uma roupa mais “verão”. O terno nunca lhe abandonava, e a gravata (torta) de cores nada convencionais também lhe definia a personalidade.

- Fala Cosme, estou meio longe daí – disse Marcos

- Bom dia, Marcos. Eu não estou na delegacia. Estou indo para o laboratório. Como foi na Vobcom?

- Nem te conto! Uma perda de tempo total...

- Só liguei para te avisar que a Sra. Hewey veio aqui logo cedo. – disse o excêntrico detetive.

- Eu esperava chegar aí a tempo de falar com a mulher! – respondeu Marcos, acenando negativamente com a cabeça. - Você conversou com ela?

- Tudo bem. Nenhuma novidade, para variar. De relevante, só a afirmação dela de que o marido estava trabalhando demais nesse último ano. Quase não parava em casa, mesmo aos finais de semana. Porém, ela não percebeu nenhuma preocupação excessiva ou estresse no marido, no pouco tempo que passava em casa.

- Eu tinha esperança que ela pudesse ajudar um pouco mais. De qualquer forma obrigado, Cosme. Você vai acompanhar os exames da ossada do Hewey?

- Vou sim. Quero acompanhar pelo menos esse primeiro dia. O corpo chegou mais ou menos às oito da manhã no laboratório. O Ramiro acompanhou a remoção. Não teve jeito, viu? Algumas partes viraram pó.

- É. Eu já imaginava. Agora o jeito é esperar. Obrigado mesmo... Ah, Cosme, me faz um favor?

- Claro, Marcos. Do que você precisa?

- Eu preciso da presença da promotoria o quanto antes na sede da VobCom. Se possível ainda hoje. O Presidente da VobCom concordou em nos dar a autorização para usarmos uma gravação da sua caixa postal. A última ligação que Mason Hewey fez antes de morrer foi para ele.

- O Ramiro me falou dessa gravação hoje cedo. Pode deixar, Marcos. Eu resolvo essa burocracia e ele vai estar lá ainda hoje. Mas Marcos, sinceramente, o que você está pensando desse caso? - indagou Cosme.

- Eu te confesso que essa ligação da vítima me deixou mais perdido do que eu já estava, Cosme. Mas quero pensar melhor. Preciso dar uma volta para ver se me ocorre algo que posso estar deixando escapar...

- Esfria a cabeça, Marcos. Vai pensando daí, que a gente vai executando daqui... he he he - brincou Cosme.

- Então cuida de tudo por ai e me deixa pensar um pouco - respondeu Marcos, em tom de brincadeira, mas tentando parecer bravo.

Enquanto se afastava da parte mais movimentada do centro da cidade, percebeu que estava há poucas quadras de sua antiga casa. Na verdade a casa ainda lhe pertencia, por herança, mas eram muito raros os momentos em que Marcos visitava o velho sobrado onde foi criado.

A vitrine, que mais parecia de uma velha loja de antiguidades, contrastava com as letras pintadas na fachada: DETETIVE PARTICULAR. Esses sempre foram os três amores declarados de seu pai: Seu trabalho como investigador, seus relógios e seu jovem e esperto filho.

Quando Marcos abriu a porta, que ficava ao lado da vitrine, percebeu que alguns relógios (os mais modernos) ainda faziam seus tique-taques característicos. Um som que lhe trouxe um sorriso involuntário ao rosto, com a lembrança de tantos bons momentos que passou naquela casa.

O escritório de seu pai permanecia intocado. Empoeirado, mas intocado. Os sofás, já meio rasgados, onde as mulheres desconfiadas de seus maridos e os empresários que queriam descobrir segredos de seus sócios se sentavam, ainda lhe pareciam convidativos.

Marcos tirou o casaco e, pegando-o por uma das pontas, desferiu algumas “chicotadas” no sofá, a fim de remover o excesso de poeira. Vendo que o resultado havia sido satisfatório, se sentou pesadamente, permitindo que as costas forçassem o encosto, que instantaneamente lhe respondeu com um ranger característico.

Após alguns instantes de abstração, permitiu-se divagar um pouco no delírio defendido pelo presidente da VobCom. "É claro que não existe ninguém capaz de fazer aquele estrago em Mason Hewey usando a força do pensamento mas, e se pudesse existir alguém com essa capacidade? Por que aquele doido me quer como testemunha? Não seria melhor chamar uns dois ou três canais de televisão? Com certeza, com a grana que ele tem, eles viriam correndo!”.

"Idiota. O que eu estou fazendo? Meu mal é sono. Só pode ser”.– pensou Marcos, em represália ao seu momento de devaneio.

E Marcos realmente estava muito cansado. Com mais alguns minutos de pensamentos desordenados, o sono acabou por vencê-lo. As horas passaram como minutos, e o vibrar de seu telefone celular o fez despertar de forma alerta e até um pouco assustada. Ao apanhá-lo para atender a ligação, o detetive se surpreendeu com o adiantado da hora. Faltava pouco mais de 20 minutos para sete horas da noite. O número exibido no visor luminoso do aparelho era desconhecido. Por pouco tempo.

- Marcos... - disse o detetive, seguido de um bocejo abafado.

- Detetive, sou eu. Anthony Cale.

- Eu imaginava. Sr. Cale, Mas eu não tenho nenhuma novidade para lhe passar nesse momento. Assim que....

- Eu tenho uma novidade para você, detetive. Seu promotor está aqui. - A voz de Anthony Cale não parecia mais desesperada e aturdida. Pelo contrário. Agora ela soava confiante e tranqüila.

- Creio que já estejam tratando da liberação da gravação... - disse Marcos

- Na verdade já tratamos desse assunto, mas não é esse o motivo da minha ligação. Meus seguranças o estão mantendo cativo aqui, detetive. E a não ser que o Sr. venha ao nosso encontro, ele não será liberado.

- Deixe me ver se entendi, Sr. Cale. O senhor está mantendo um promotor público em cárcere?

- Exatamente. Me desculpe, detetive. Esse foi o único meio que encontrei de fazê-lo vir ao meu encontro novamente. E por favor, venha sozinho. Se vier acompanhado, não terá acesso ao meu andar de forma alguma. É um caso de fácil solução. Você vem até aqui e ambos irão embora pouco tempo depois. Quanto tempo você leva para chegar aqui?

- Eu ainda estou na capital, Sr. Cale. Preciso de no máximo meia hora para chegar aí. Não faça mais nenhuma besteira. Sr. Cale. Eu estou indo aí.

- Estamos te esperando, Marcos. Estamos te esperando!

This entry was posted on sexta-feira, julho 03, 2009 at 22:34 and is filed under , , , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

1 post-scriptuns

Ae Marcelo... Nãó é Probare mas não deixa de ser um selo de qualidade!!!!

Você acaba de ganhar um... passa lá no meu blog e pega... as regras estão no post.

Abs,

4 de agosto de 2009 às 19:01

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